“Eu
só despertei da minha infância profunda, aos 40 anos. Aí é que eu comecei a ver
a vida em todos os seus valores. E consegui respeitar, amar e realizar os meus
valores mais belos, a partir dos 40.” [Nelson Rodrigues]
Eu poderia começar dizendo “trago verdades” (hahaha). Bem, o
tema desse texto faz muito sentido (pra mim e para algumas gerações). Mas,
independente deste viés retrospectivo, o tema vem a calhar em nossa bolha de
conceitos contemporâneos.
É chover no molhado dizer que vivemos tempos da busca insana
pela juventude eterna. E se não é possível obtê-la de fato, muitos se contentam
com o aparentar. O efeito dessa empreitada me faz lembrar uma brincadeira de
criança, quando pegávamos diferentes bonecos e bonecas e trocávamos as cabeças,
os membros e corpos.
De alguma forma
estávamos/estamos (re)criando Frankenstein.
A negação ao envelhecimento físico me parece uma grande
sacada das “mãos invisíveis” que nos controlam (o grande sistema...!). Por que? Porque essa negação anda de mãos
dadas (causa ou consequência?) com a infantilização intelectual, ética e moral.
Não é um prato cheio, para o glutão invisível, ter uma sociedade infantilizada?
Que está hipnotizada pelas temáticas da superfície, incapazes de mergulhos
profundos?
Por isso, o conselho do Nelson Rodrigues, que dá título a
este texto, me parece tão lúcido, atual
e pertinente.
É possível que muitos jovens (independente da idade) torçam
o nariz para tudo isso. Tipo: “tá querendo cortar o meu barato só porque já
passou dos 40?”. Eu não os culpo. É
preciso respeitar o tempo de cada um.
Mas, pensando no coletivo, urge a necessidade de discutir,
refletir e agir sobre o tema. Afinal, se
a força de uma corrente é medida pelo seu elo mais fraco, as organizações
humanas - família, escolas, empresas, estado - enfraquecem-se no contexto da
infantilização.
A identificação, valorização e utilização das inúmeras
riquezas resultantes do processo de “envelhecimento” é o segredo daquelas
pessoas e organizações que possuem um “capital intelectual” sólido e perene,
que apresentam menos reprodução e mais autenticidade, que vivem a expansão da
compreensão, que praticam o refinamento dos valores.
E se a alma é eterna, envelhecer não significa endurecer,
nem na forma, nem no jeito. É possível unir o melhor dos dois mundos – a prontidão,
o espanto e a alegria da criança, com a profundidade e a sabedoria do “envelhecer”.
Vamos brincar de desafio, então?
- Daqui a 20 anos, o que você gostaria de oferecer aos grupos aos quais pertence, em termos de “riquezas do seu envelhecimento”?
- O que você precisa começar a fazer hoje para alcançar o que respondeu na pergunta anterior?
Desejo a todos uma ótima semana, de reflexões e ações.
PS: A incrível imagem que ilustra esse post é do desfile de uma coleção do grande, e sempre inspirador, estilista mineiro Ronaldo Fraga.
PS: A incrível imagem que ilustra esse post é do desfile de uma coleção do grande, e sempre inspirador, estilista mineiro Ronaldo Fraga.
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