Beleza Importa?

A Criação de Adão -  Michelangelo Buonarotti

Em qual conceito de beleza você pensou quando leu esse título? Isso diz muito sobre como você está vivendo.

Eu me explico.


Ao longo dos anos, nossa sociedade deixou de considerar a beleza como um valor essencial ao desenvolvimento humano (tão importante quanto a verdade e a bondade) “rebaixando-a” a algo fútil e superficial.

Infelizmente essa mudança em nossa relação com a beleza tem nos privado de muitas coisas, tem nos privado do florescimento de nossas potencialidades...

Nesses últimos dias, tenho lido, vivido, visto e refletido sobre esse assunto e me deparei com o documentário “Why Beauty Matters” do filósofo Roger Scruton (vale a pena assistir). Segundo Scruton, “Através da busca da beleza, modelamos  o mundo como um lar e fazendo-o, amplificamos nossas alegrias e encontramos consolo para nossas tristezas. Arte e música irradiam significado para a vida cotidiana, e através delas, nos tornamos capazes de enfrentar as coisas que nos preocupam e encontramos consolo e paz em suas presenças”.

Sim, a beleza importa. Mas, não estou falando do conceito superficial. Estou falando do belo que nos encanta e nos remete à essência da vida. Esse belo pode ser produto de um espetáculo da natureza (olhe ao seu redor e descobrirá muitos, dos menores aos mais voluptuosos), pode ser de um bom dia de um estranho, pode ser da roupa cheirosa e passada na sua gaveta, pode ser de uma obra de arte, pode ser de um ato de misericórdia, pode ser da arquitetura, pode ser da experiência de vida que brota do olhar de um idoso, pode ser da música, pode ser da inocência de uma criança, pode ser de um amor, pode ser de uma amizade, pode ser de um trabalho bem feito...

E, talvez, a missão maior da beleza seja essa: nos encantar. E porque nos encanta, nos permite modelar o nosso mundo de forma positiva, nos permite usar as lentes “certas” da realidade, nos mantém entusiasmados (sugiro aqui dar um Google na etimologia dessa palavra) e nos torna capazes de enfrentar a vida.

O mês de setembro tem o poder de aguçar em mim ainda mais a busca pela beleza... Não sei bem o porquê. Seria porque ele traz  o “sol de primavera”? Porque “Abre as janelas do nosso peito”? Porque os espetáculos da natureza (pelo menos onde moro) são mais expressivos? Porque foi nesse mês (há alguns anos) que brotou em meu ventre a semente da vida? E não por acaso que, em um setembro, esse lindo projeto “Para o Rio Virar Mar...” veio ao mundo? E nos encantou tanto, e completa agora dois anos...

Conjecturas à parte, a mensagem que gostaria de deixar aqui é sobre a importância de manter-se encantado. E sobre o poder do encantamento na transformação de nossas atitudes, hábitos, realizações e resultados.

Perceba o belo à sua volta. Perceba o belo em você. Seja jardineiro do belo, plante beleza, cuide. Faça a curadoria da beleza em sua vida. Tenha capricho em tudo o que for fazer. Você já viu algo feito com capricho que seja feio? Ainda que nas formas não exista perfeição, se há capricho, a beleza exala, lá da essência...

E há ainda a crença de que a experiência da beleza nos aproxima do divino. Se essa não é a sua praia, não tem problema, seja pragmático e reflita sobre as vantagens práticas da beleza em sua vida.

Por essas e por outras, não deveríamos nos acostumar com a falta da beleza. Há sempre um jeito de embelezar a vida, o relacionamento, a casa, o trabalho, nós mesmos...

Desejo a você belas reflexões sobre isso.


E para finalizar com mais um trecho da canção: “A lição sabemos de cor, só nos resta aprender”.

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