M.C. Escher - Relativity - 1953 - Lithograph http://www.mcescher.com/ |
“Não vemos as
coisas como elas são, mas como nós somos”. Essa verdade dita por Anaïs Nin, me
faz pensar sobre como nosso olhar e nossa interpretação sobre os acontecimentos
são afetados pela nossa história de vida, pelo que acumulamos de paradigmas,
crenças e valores.
Quantos fatos interpretamos de forma completamente
diferente de outra pessoa que se depara com o mesmo? Ou nós mesmos os
interpretamos de forma completamente diferente em fases distintas de nossas
vidas?
Às vezes me angustio com os pensamentos acerca
disso: se eu tomar consciência dessa situação, e me policiar para que meus
paradigmas não interfiram no processo, é possível ver as coisas como elas
realmente são?
O que você acha?...
De acordo com as ciências cognitivas, o nosso
processo cognitivo é composto pela percepção, memorização, identificação e
interpretação de um sinal, seguido de uma decisão e ação sobre ele.
Perceber é reconhecer, organizar e entender as sensações
recebidas dos estímulos externos. Ora, “reconhecer” não é o mesmo que conhecer
de novo? Ou seja, conhecer algo que eu já tenho registro a respeito em minha
memória? Então, para que eu perceba (e compreenda) algo eu preciso compará-lo
com o que eu já tenho sobre ele em minha memória. Por isso é tão difícil
conseguir um olhar imparcial!
A percepção, portanto é um processo que depende tanto de
características do estímulo a ser percebido (cor, forma, intensidade, textura, cheiro,
gosto, etc), quanto de características do indivíduo (experiência, expectativas,
desejos, etc).
Quanto mais complexo, indireto, subjetivo for o fato/estímulo
com o qual nos deparamos, mais a nossa percepção será afetada por nossas
características individuais e pelo efeito do contexto, que cria em nós uma predisposição perceptual – tendência para formar uma determinada percepção de
acordo com aquilo que esperamos perceber!
E, nesse caso, mais susceptível nós estaremos de produzir erros
de interpretação (ilusões).
Por exemplo, se você estiver observando de longe um casal conversando
e eles começarem a gesticular de forma rápida
e abrupta, mesmo que você não possa ouvi-los, o que você concluirá
imediatamente? Que eles estão brigando.
Se um pessoa de origem latina vir dois homens se abraçando
interpretará o fato de maneira diferente do que interpretaria um cidadão
norueguês.
Dito tudo isto, gostaria de chamar a atenção para a
importância de refletirmos sobre esses fatos... e a partir da reflexão fazermos
um exercício de tomada de consciência e aceitação de que existem muitas
maneiras de se perceber e interpretar a realidade.
Quando entendemos isso fica muito mais fácil e mais leve
lidar com pontos de vistas tão adversos dos nossos.
E, aliás, o que é a realidade? A frase de Luigi Pirandello
pode nos ajudar a responder essa pergunta: “Assim é, se lhe parece”.
Esse exercício pode ser libertador, nos permite ampliar
nossos horizontes, pois nos ajuda a não ficarmos presos a verdades imutáveis, cuja manutenção se torna pesada e desgastante ao longo do tempo. Há um texto
muito bacana, da escritora Hilda Lucas, que corrobora com essas ideias, com o
instigante titulo: “Coerência é para fóssil” - que recomendo a leitura.
E agora que você leu tudo isso, pergunte-se: o que você vê
quando você olha?
Sempre digo isso a meus alunos: todo conhecimento adquirido é resignificado em nós e adquire, a partir daí, a minha parcela de colaboração segundo as minhas vivencias, meus valores, minhas impressões. Assim construímos novos conhecimentos, novos paradgmas nascem para serem novamente resignificados. Ótima reflexão. Parabéns!
ResponderExcluirValquiria Leony - Kyll. Arte - Educadora.
Obrigada, Valquiria! Esse é um exercício permanente que nos leva à expansão de tudo o que somos e sabemos. E como educadores, de fato ou de coração, refletir sobre essas questões é fundamental. Parabéns pelo seu trabalho. Um abraço!
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